Suavemente, os meus olhos se
abrem… A dor que interiormente o meu peito invade, revela-me a mais crua e ao
mesmo tempo mais doce e ansiada das verdades, o estar vivo para mais um dia…
Até quando? Não sei, prefiro estas trevas àquelas que desconheço, tão exprimidas
por alguém que cruzou o meu olhar. Oh sim… Quem dera ter calado as palavras da
tua boca naquele gelado dia de inverno, ou talvez as minhas?... Quem dera não
acreditar em ti, ter fugido… Não ter confiado, não ter entendido…
Foi
há tanto tempo… Olho para o passado e vejo que dois anos passaram, hoje, sim,
estou bem... Amo quem me ama, e sei bem quem amo. É por ela que aqui continuo…
É por ela que tento acender nestes dias cinzentos, a vela que o vento teima em
apagar, cada vez que a chama atinge o seu auge. Por ela luto, por ela me agarro
á vida, mesmo quando o meu próprio eu da vida tenta fugir… Quanto a ti, resta a
tristeza, resta a incompreensão de tudo o que um dia foi. Será que foi? Será
que ele existiu pra ti como para mim? Não to sei dizer… Simplesmente não sei...
Lentamente
dás-me respostas que os meus ouvidos não querem ouvir, fazes-me ver coisas que
os meus olhos não querem ver… Afinal… Quem és tu? Sim.. Quem?... A verdade? A
mentira? Ou simplesmente… Alguém… Há muito que desisti de o entender, há muito
que larguei no passado, respostas a que cheguei… Respostas com sentido, às
quais o mundo chamaria de loucas e as quais nunca te direi… Pergunta-me...
Pergunta-me se acredito… Enfrenta-me… E eu lentamente, e com um sorriso no
rosto, dir-te-ei que não…
Ainda
assim, a raiva que sinto em mim, por tudo aquilo em que me tornei, não apaga a
perfeita ilusão de um passado distante, não esconde entre as marcas da
tristeza, que o tempo teima em não apagar, a saudade de tão estupidamente ser
iludido por tudo o que me dizias ser, nem as lágrimas causadas por cada palavra
distorcida que me falaste… Hoje simplesmente já não as sinto correr pelo meu
rosto... Já não invoco o teu nome arrependido, enquanto decoro de vermelho o
pálido luar de uma noite de lua cheia… Não… Por hoje não… Não me tentes mostrar
que estou errado, simplesmente não tentes… Não tentes tirar-me agora os poucos
que tenho, porque tu os abandonaste, não tentes fazer-me ser feliz á tua
maneira, não…
Mostraste-me
a luz e as trevas em pleno dia, a verdade e a mentira… Subitamente falas a
palavra certa da pessoa errada, confundes-te a ti confundindo-me a mim… No
fundo não sei bem quem és… O bem ou o mal…? A tristeza do presente… O temor do
futuro, ou simples e friamente… Uma sombra do meu passado…