domingo, 16 de março de 2014

O cheiro da saudade


  

    (...) E por fim, ela surge... Essa noite escura que deu lugar ao dia quente que passou, e eu... Eu, comigo me encontro. No peito sinto a ausência do teu eu, pelo perfume que o teu cabelo deixou na minha almofada, e pelo sabor do teu beijo que os meus labios teimam em querer guardar... Lá fora, a cidade encerra sobre si mesma as histórias de mais um dia que passou, e anucia calmamente o meu até já a este lugar que me apaixonou. Abraçado á tua almofada, eu inspiro... Inspiro pensando no teu sorrizo, no teu olhar, em cada pedaço de ti... O desejo de ti me invade e sinto em mim o pulsar desse amor que preenche o meu ser... Será hoje, amanhã... Oh... Não sei... Mas sei que um dia teimarei novamente em voltar, para talvez noutro dia teimar novamente em partir... (...)

    São sete da manhã, o dia está gelado e mal teria dentro de mim a coragem para colocar os pés fora da cama... Sim, as duas horas e meia que dormi também não ajudaram muito para que o conseguisse fazer... Mas, oh, a vida lá fora espera por mim, ou melhor, não espera... Não se eu não correr atrás dela e não lutar as batalhas que ela mesma me impõe... Assim, levanto-me e corro atrás, deixo preparado cada pormenor já pensado. Pego na moxila e sigo como outrora quando tudo começou. Pego em mim e sigo... Eterno amante e eterno guerreiro, porque esperas? O que te poderia fazer temer nesta altura? Não, já não temo! Este sou assim, este sou eu, e é isto que amo, é isto que me faz viver...
     O dia corre tão igual e tão diferente de tantos outros... A correria, a pressa, a busca da prefeição e o erro que a cada momento surge... Peço ás marca do passado para que hoje não me assombrem, e dou a cada segundo o melhor de mim... A hora chega, apressadamente pego na mala e parto como que sem destino, esquecendo-me até de um ou outro pormenor que me surge pelo caminho com o qual esbarro me fazendo parar. Sigo, e vou, sim... Hoje não tenho medo, este sou eu procurando por ti, procurando dentro de mim essa chama que arde no meu peito. Hoje, sinto apenas o desejo de me aventurar e fazer-me ao mar. Navegar nos teus cabelos e mergulhar na profundidade do teu olhar e invadir o teu ser... Hoje, quero-te a ti meu amor...
     A noite já vai longa, e em breve o dia surge, e com ele o sorrizo que me apaixona, e o beijo que me trás para junto de ti ainda que por breves instantes... O toque dos teus dedos, a tua voz, aprecio detalhes de cada pormenor de ti mesma e sinto o teu amor dentro de mim... Oh, quanto queria que cada um destes momentos fosse eterno e quanto queria novamente não ter de partir... Mas parto, parto com a saudade que me acompanha onde eu vou e se difunde com cada palavra que gravaste em mim... Parto para voltar e para voltar a partir... Se um dia não terei de o fazer, quando não o irei fazer, não sei meu amor, não sei... Apenas recorda todas as vezes que te prometi voltar, lembras-te?... Não, isso não muda porque estás aqui, isso não muda para onde fores...  Carrego comigo, como sempre o fiz, esse abraço que tenho para te dar, e que me culpa pela ausencia dos momentos em que não te faço sorrir... Carrego comigo o beijo, que te quero voltar a dar pela manhã e o abraço que de novo te fará adormecer... Cravo em mim o amor e a culpa, a alegria da chegada e a lágrima que corre na partida. Sinto-me em ti e sinto-te em mim... Eterno amante perdido e eterno apaixonado... Quem sou, de onde sou...? Não sei, meu amor, não sei... Meu amor, e se um dia... E se um dia eu não quizer mais partir?

Your Fallen Angel

quinta-feira, 6 de março de 2014

Quem sou eu para ti


        Hoje me olho, vendo-me diante de mim mesmo. Procuro no espelho reflexos do meu eu que de mim foge, e da essencia daquilo que fui... Oh, assim o dizes. Procurando-me em mim, vejo o reflexo daquilo que ontem fui, e o oposto daquilo que teimo em amanha ser... Sonhos, ilusões... Oh! Essa utopia demente que me cativa nas horas em que tudo parece poder ser real, em que o mundo se apresenta aos meus olhos naquilo que ele mesmo nega ser...
     Melhor, pior? Não sei... Porque ei de ter de saber quando todos têm o direito á duvida e estupidamente esta parece ser a unica constante na vida de cada um de vós?... O bem? O mal...? Não sei... Procuro na noite escura a felicidade que de mim foge, cobrindo-a de negro com as azas que eu mesmo pintei. Eu sei, existe a escolha e sempre existiu... Mas, o que me fez escolher...?
        Ainda assim, não sei de que lado estou ou o que sou... Apenas sei que sou esse sol de inverno que não aquece, e chama desse fogo que não queima, mas que estupidamente teima em pintar de luz pegadas desse caminho que alguém teima em seguir. Pegadas que se aproximam e afastam na incertesa que até elas têm de si mesmas... Oh quão cruel e quão riduculo... Quanto te opões e quanto de ti dás...
       Serei eu o negro manto que o luar nessas noites cobre, ou apenas a fraca luz do dia que ainda teima em brilhar... Linha que segue a espada cruel da mentira que nos trespassa, ou simplesmente a verdade que teimas em não conhecer... A vermelhidão de um por do sol numa noite fria de inverno, ou a neblina de mais um amanhecer...? Palavra que não lês ou sentimento que não sente...? E tu...? Quem sou eu para ti?...

Your Fallen Angel